Birman Tatuando O Desamparo
TATUANDO O DESAMPARO
A juventude na atualidade
Joel Birman*
I. Condições de um conceito
A problemática em causa, a juventude na atualidade,
é caracterizada pela
complexidade, pois pressupõe no seu interior uma multiplicidade de temas possíveis, que poderiam todos serem inscritos no seu campo, com toda a pertinência. A cartografia em questão seria então imensa e de contornos imprecisos, em decorrência da extensão de seu cardápio de possibilidades. Devo realizar certas escolhas temáticas e enfatizar algumas linhas de fuga, portanto, para que se possa dizer algo que seja efetivamente consistente e coerente sobre a juventude hoje. Isso implica em dizer que tenho necessariamente que realizar certos recortes temáticos, enfatizando certas questões e colocando outras entre parênteses, para delinear a problemática em pauta.
A ponderação expositiva, a que aludo acima, já indica qual é a questão de fundo que se impõe e está aqui em pauta, do estrito ponto de vista teórico, qual seja, o conceito de juventude propriamente dito. Com efeito, este conceito foi recentemente subvertido, de maneira evidente, de forma que aquilo que era descrito outrora como sendo a juventude não pode ser retomado ipse littere na atualidade. Isso porque a temporalidade da juventude se alterou de maneira substantiva, seja na transformação da infância que a precede, seja na da idade adulta que a sucede.
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Psicanalista, Membro do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos e do Espace Analytique (França),
Professor do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Instituto de Medicina
Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
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Esta mudança crucial ocorreu não apenas nas classes populares da população, como também nas classes médias e nas elites, de forma que muitos autores já enunciaram que a infância, enquanto etapa psíquica e sociologicamente bem discriminada da existência humana, estaria em franco processo de desaparecimento e de dissolução. Suponho, aqui,