biologia
— Por quem me tomam? — pode ele perguntar. — O que eu quero é o amor. E sempre assim, sempre: cidades inexplicáveis no meio da terra ou prados imensos onde se tem medo. Prados para vacas, não para um poeta di-la-ce-ra-do por uma tormentosa inocência.
Já não escreve poemas nem pergunta às pessoas o seu nome. Ele próprio, visto estar destinado à inteira perdição, vai perdendo o nome pelo pais adiante.
Agora vigia a paz devoradora dos animais, as coisas, a imobilidade. Vou partir
— imagina. As cidades ardem, os campos enlouquecem. Um poeta tem de partir, repartir, repartir-se. Um poeta deve ser uno. O inferno não o deixa. Às vezes lamenta-se: Sinto-me como se tivesse percorrido o deserto; não sei nada.
À noite falava baixo, conhecendo que não possuía a protecção das coisas e a sua vida estava a ser corroída por uma vocação menos que humilde: degradante.
Não servia para nada; essa era a sua mais implacável vocação. Ficava sentado a ver os homens holandeses cuidarem dos animais e da terra e a vigiarem o céu. Os homens holandeses invocavam os poderes que se debruçavam, um pouco como holandeses, sobre o exercício humano.
Na Holanda o Demónio é negativo. O poeta sabia da irremissível solidão do Demónio, e pedia por ele: Piedade para o Demónio, piedade para a solidão demoníaca. Na Holanda é assim. O Demónio está no meio das vacas: não escreve poemas, não pode exercer os dons. Pensa, perde o nome. Quem esperaria dele que trabalhasse a terra ou protegesse as alimárias?