binomio cesario verde
Esta dicotomia pode ser vista com “ produto” da vida de Cesário Verde uma vida ora citadina, em Lisboa, ora campestre, em Linda - a – Pastora, e é em torno desta dualidade que a sua poesia se vai organizar. Esta dualidade “ cidade / campo” reflecte ainda as transformações do tempo de Cesário Verde.
O campo apresentado na poesia de Cesário Verde não tem o aspecto idílico, paradisíaco que teve para poetas anteriores. Para Cesário Verde, o campo é um espaço real, é onde se podem observar os camponeses na sua labuta diária – ali as alegrias manifestam-se face aos prazeres da vida, enquanto as tristezas surgem quando os acontecimentos não seguem um curso normal. Para Cesário Verde, o campo está associado à vida, à fertilidade, à vitalidade, ao rejuvenescimento, já que é visto como um local puro, saudável e fértil ( “Nós”). O campo também pode surgir, através da visão transfiguradora do poeta, a invadir simbolicamente a cidade ( “ Num bairro moderno”). Contrapondo-se ao campo, surge a cidade, um local donde fogem da febre e da cólera ( “ Nós”), onde há miséria constrangedora, sofrimento, poluição, cheiros nauseabundos. A cidade é, no poema “ Nós”, a capital maldita, devoradora de vidas. O espaço citadino “ empareda” o poeta, incomoda-o tal como o incomodam os pobres trabalhadores que na cidade procuram melhores condições de vida. O poema que melhor retrata o ambiente citadino é “ O Sentimento dum Ocidental”. Neste, a cidade é descrita em várias fases do dia ( final da tarde “Avé – Marias”...) servindo-se o poeta dum forte visualismo para captar os seres que pelas ruas circulam. O espaço citadino desperta em Cesário Verde uma consciência social. No poema “ Num bairro moderno” essa consciência é bem visível quando o sujeito poético apresenta, contrastando com o luxo e a riqueza das casas apalaçadas, a vendedeira “rota, pequenina, azafamada”. Aqui esta vítima da exploração citadina é uma nota da injustiça social.