Bili Ni
2) A língua é um sistema fechado cuja aprendizagem depende do domínio das suas unidades básicas (as letras, sílabas ou palavras) e da aquisição da normas e regras do sistema. Concebida como uma entidade autônoma, ela existe independentemente dos seus usuários e das relações que dão origem às suas manifestações. Isso justifica a dimensão estática (por vezes até preconceituosa) da língua na escola (avaliada prioritariamente pelos critérios do "certo" e "errado") e a versão descontextualizada tal como aparece no ensino (insensível à condição do locutor ou ao seu contexto de produção).
3) O ensino da escrita se justifica na escola prioritariamente como instrumento para a transmissão do saber como se a língua não fosse, em si, um objeto de conhecimento. Por isso, a alfabetização tende a ser vista como uma etapa preliminar no processo de aprendizagem: uma aquisição pontual e transitória, situada nos dois primeiros anos de escolaridade e, não raro, operacionalizada pela lógica de que os fins justificam os meios. Daí a distinção entre o momento de aprender a ler e escrever (centrado em práticas artificiais da língua) e o momento de fazer uso dessas habilidades (a escrita para aprender conteúdos ou a escrita para comprovar o domínio do conhecimento).
4) A alfabetização é consequência do ensino empreendido como processo linear, previsível e cumulativo para a assimilação do código; uma progressão de aprendizagem calcada nas habilidades de percepção-motoras, que se processa do fácil para o difícil, de fora para