Bicho de sete cabeças
No filme, com muita clareza e eficiência, são enfocadas três questões sociais que são de grande valia na realidade brasileira da atualidade: a relação cada vez mais tênue entre pais e filhos, o uso de drogas e a forma como o sistema cria e, mesmo assim, mantém à margem as pessoas mentalmente deficientes.
Neto, o personagem principal é usuário de drogas e não um dependente, ele usa maconha eventualmente com os amigos como um tipo de diversão para dar mais emoção à vida, pois como nos mostra o filme o seu dia a dia é bastante parado. A droga o enche de coragem para praticar um crime que naquele grupo é considerado uma brincadeira, a pichação.
No filme, podemos ver a questão do sistema manicomial brasileiro e de uma parcela da sociedade que, pela exclusão, foi afetada e que, afetada, é ainda pior tratada: os “loucos”. As clinicas psiquiátricas em total descaso com os seres humanos, os submetem a torturas, não apenas psicológicas, mais físicas, como tratamento de distúrbios que sequer são comprovados pelos médicos. Vendo dessa maneira, as pessoas se tornam números dentro da instituição, que ao invés de ajuda-los, os rebaixa aos maiores níveis de humilhação que pode existir em uma sociedade considerada livre. Como se não bastasse o ser humano se tornar um número, a instituição mostra claramente no vídeo que o que importa não é mais o bem estar ou a recuperação dos pacientes, mais sim ter a quantidade de pacientes suficiente para se ganhar esse ou aquele beneficio.
A implantação de um sistema de clínicas psiquiátricas no Brasil não é atual: veio com a família real portuguesa no início do século XIX, com pretexto de “organizar a vida urbana e disciplinar a sociedade como um todo”. Apesar de esse uso do conceito “disciplina” apresentar-se sob forma de exclusão social, torturas físicas e violação de outros direitos humanos, as discussões acerca do assunto são relativamente atuais. Inspirado na luta do ativista italiano Franco