bastidores
O livro é indiretamente imposto a todos os funcionários. Foi-lhes “sugerido” que o lessem. Ai de quem se atrever a desobedecer! Diante dessa imposição sub-reptícia, caberia perguntar: posso lê-lo durante o horário de expediente? Óbvio que não. Essa pergunta não pode sequer ser formulada. O horário de trabalho é o tempo sagrado de usufruto da força de trabalho do funcionário pelo capital. Esse tempo não pode ter interrupção. Isso está fora de cogitação. Mas de quem é o interesse de que eu leia o livro? Se é do interesse da empresa, eu deveria lê-lo durante o horário em que estou em serviço.
Ledo engano. O chefe “convida” todos os funcionários a lerem o livro, mas está fora de cogitação que o façam no horário de trabalho. Não é dito explicitamente, mas cada um tem que achar o seu tempo. É óbvio que o livro terá que ser lido fora do expediente de trabalho, no tempo livre, como lição de casa. Essa imposição se baseia em um pressuposto tácito que é assumido como interesse de todos. Não é simplesmente interesse da empresa que o funcionário leia o livro, é interesse do próprio funcionário. É o que pensa o chefe e o que pensam todos. Quase todos.
Vigora a filosofia “Você S/A”, nome paradigmático de uma certa revista dedicada a esse metiér da atualização profissional. Revista cuja leitura aliás já foi também “sugerida” aos funcionários e de cuja deglutição tenho heroicamente me esquivado. Seja como for, trata-se de mais um componente da ideologia da competição. A ideologia da