Auto Do Bumba
Data de Publicação: 4 de janeiro de 2006
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Por: Iram de Jesus
Rodrigues dos Passos *
O Auto do Bumba-meu-boi tem como história a relação, mediatizada pela dança e pelo canto, entre um homem e um boi. A presença da dança e do canto remete essa manifestação artística às origens do gênero dramático, mais precisamente às festividades em honra de Dioniso, cujos rituais sustentavam-se nessas duas formas de arte.
O espaço humano é uma fazenda localizada no interior do país, na qual atuam como personagens, entre outros, um vaqueiro negro, Pai Francisco, nome variante recebendo, ainda, as denominações de Negro Chico, Mateus, Fidélis, Sebastião, uma cabocla, Mãe Catirina, nome surgido à volta de 1910, e um homem branco, cujo nome, da mesma forma que o do vaqueiro, é variante sendo, portanto, chamado de Capitão-do-Mato, Capitão Marinho, Amo, Patrão, Comandante, Capitão Boca Mole e Senhor Branco.
O Bumba-meu-boi, como espécie dramática (auto) proveniente dos mistérios e moralidades, apresenta inúmeras versões, embora o fulcro seja o roubo do animal, cuja língua é objeto do desejo de grávida de Mãe Catirina. Como a história do auto não tem autor, as inúmeras versões decorrem do imaginário coletivo, que ignora limites, sendo a história do Bumba-meu-boi contada, recontada e reescrita infinitas vezes, passando de uma geração para outra com o mesmo brilhantismo, como muitas outras narrativas, cujas origens estão na oralidade. A propósito, MACHADO (1994, p.13) diz que
Um dos aspectos mais importantes da narrativa literária, em seu aprendizado com a tradição oral, foi a possibilidade de a história se modificar cada vez em que é contada. O ato de fala nunca se repete, por isso, é muito difícil contar a mesma história do mesmo modo. [...] Assim sendo, uma mesma história pode gerar muitas narrativas.
As variações do enredo do Bumba-meu-boi têm como background circunstâncias histórico-sociais, o que permite a essa