Auditoria
Quando todos estavam ganhando no jogo do capitalismo nos Estados Unidos — dólar forte, desemprego em baixa, índice de confiança do consumidor em alta, empresas se tornando verdadeiros impérios do dia para a noite — uma maquiagem na contabilidade para ‘‘ressaltar’’ a saúde da companhia era considerada fato sem gravidade. Ninguém dava importância, nem mesmo grandes auditorias como Andersen Consulting e KPMG. Afinal, por que se preocupar se o capitalismo é feito de lucro e dinheiro era o que não faltava no mercado? Assim era como pensavam os especuladores.
Hoje, a história é diferente. Com a economia parada, o consumo reduzido e o desemprego batendo à porta, o governo americano, investidores e mesmo empresários querem números redondos no papel para fugir de prejuízos. ‘‘A crise revelou a verdadeira situação das empresas e exigiu limites. O caso da Enron expôs os problemas contábeis que todos já sabiam da existência, mas toleravam porque a conjuntura estava a favor’’, explica Antonio Correa de Lacerda, diretor da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet). A falência da Enron, gigante americana do setor energético, deixou um rombo de US$ 60 bilhões no mercado e muita gente desesperada ao ver as economias evaporarem diante dos olhos. Antes de virar pó, a ação da empresa chegou a valer US$ 90.
Para avaliar o estrago que a verdade causou no mundo corporativo americano, basta ler as notícias de economia dos jornais. Antes, elas contavam histórias de homens bem-sucedidos, verdadeiros super-heróis do mundo corporativo, e de empresas que eram a mais pura tradução do American dream. Hoje, em nada deixam a dever às páginas policiais. Há fraude, suicídio,