Auditoria
INTRODUÇÃO
Segundo a “Filosofia da Composição” de Edgar Allan Poe, a construção do poema “O Corvo” foi planejada objetivamente: seleção do cenário, tema, personagens, palavras, cor e ambiente; todos estes elementos com uma finalidade: causar um efeito no leitor; para Poe este efeito significa provocar sentimentos sejam de terror, melancolia ou suspense.
O tema deve nascer e se apoiar na estrutura mais profunda do homem, aí se concentra sua intensidade e consequentemente, seu efeito.
Poe escolhe como tema a morte da mulher amada, sendo esta a proposição mais poética do mundo, associada ao mistério da visita de um corvo, em altas horas da noite, ao amante melancólico, criando juntamente com a fala do corvo “nevermore” um clima sobrenatural.
Além disso, para garantir o efeito, Poe seleciona palavras combinando som e sentido da palavra “nevermore”, acumula uma sucessão de idéias ao longo dos versos. Sua repetição, não se torna monótona, pelo contrário, estabelece uma sucessão perturbadora, cheia de conseqüências.
Ao longo do poema, a palavra “nevermore” vai se tornando mais significativa e ainda mais intrigante, pois leva o leitor a imaginar o cenário, combinado aos pensamentos da personagem que ao fim de cada trecho se assusta com o grunhido do estranho pássaro: nunca mais.
Na tradução de Machado de Assis, o efeito fica comprometido, pois na seleção de palavras em português, ocorrem algumas aliterações, resultado do uso cuidadoso de sons similares entre a música da poesia, modificando o sentido “nevermore/Leonor” substituindo por “nada mais/ Leonora”, além de perder características de assombro e espanto que o texto original impõe ao leitor.
No princípio, Machado de Assis perde o efeito proposto por Poe, embora haja uma seqüência de fatos que causam no leitor um certo suspense, este fica comprometido pela substituição das palavras:
Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary,