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Nós temos banana? Banana, laranja, manga, tudo picadinho e misturado, e aí está: uma bela salada de frutas tipicamente brasileira. Pensando bem... Embora hoje sejamos conhecidos pela variedade de nossas frutas, é sempre bom lembrar que muitas delas têm DNA estrangeiro
– são exóticas, como dizem os botânicos. A começar por um dos maiores símbolos pátrios, desde que enfeitou a cabeça de Carmem Miranda (que, por sinal, era portuguesa). A origem da banana é uma verdadeira salada étnica. Ela nasceu nas selvas da Índia e da Indochina, foi introduzida pelos árabes nas Ilhas Canárias e “descoberta” pelos portugueses. Só então cruzou mares para chegar ao Brasil, no começo do século XVI. Aqui já existia uma espécie de banana, a pacova, mas não se compara: ela não podia ser comida crua. O mesmo ocorreu com a manga. Originária da Índia, foi levada para as costas oriental e ocidental da África pelos portugueses, em suas viagens marítimas em busca de especiarias. Teve seu cultivo difundido para todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo, mas somente por volta da segunda metade do século XVIII é que o Brasil, ou melhor, a Bahia, recebeu as primeiras mudas de mangueiras indianas. E a laranja? Outra fruta asiática, encontrada pelos portugueses na China, e de lá levada para a Europa. Então, deixemos de lado a internacional salada de frutas para tomar uma brasileiríssima água-de-coco, que abunda em todo o nosso litoral... Fruta nacional? Também não. A Cocos nucifera chegou somente em 1553, a bordo de embarcações lusitanas provenientes das ilhas de Cabo Verde. Como as outras, tem origem longínqua: provavelmente o sudeste asiático (há controvérsias). São exemplos de como os alimentos podem se adaptar bem a ambientes diferentes de sua terra de origem. Ou seja: pode comer sem culpa. Mas quando quiser optar por iguarias genuinamente nacionais, vá de açaí, cupuaçu, cajá, pequi ou caju.
(Fábio Pedrosa, Revista História da