ATOS FALHOS: A PSICOPATOLOGIA DA NORMALIDADE
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ATOS FALHOS: A PSICOPATOLOGIA DA NORMALIDADE1 INTRODUÇÃO
O VI volume da obra de Freud, intitulado “Sobre a Psicopatologia da Vida
Cotidiana”, escrito em 1901, discorre sobre os esquecimentos, lapsos da língua,
equívocos na ação, superstições e erros. Tais “equívocos e lapsos” que Freud trata
no volume mencionado, não vêm dizer sobre as neuroses, histerias, e grandes ou
graves psicopatologias das quais psicólogos, psiquiatras e psicanalistas dispõe a
maior parte do seu tempo estudando. Pelo contrário, fala sobre a suposta
psicopatologia a que todas as pessoas estão sujeitas a apresentar no dia-a-dia;
“sem querer”. São momentos em que o inconsciente dá um jeito de aparecer,
mesmo que tente esconder; são os chamados “atos falhos”, ou “parapraxias”.
Segundo Berlinck (2000, apud REI, 2005), a palavra Psicopatologia tem sua
origem etimológica no grego – pathos– que deriva nas seguintes palavras: paixão,
sofrimento, passividade, excesso. Pathos é marcado pela desmesura. É tratado,
muitas vezes, como doença, porém a psicopatologia, etimologicamente, estuda
aquilo que há em excesso no humano; e todos os humanos têm algo em excesso,
além daquilo que se vê, que se fala (conscientemente), e do que se ouve.
Os atos falhos nada mais são do que o excesso que há no humano,
aparecendo em forma de equívocos. Excesso, este, que não é possível controlar ou
esconder por completo; é o inconsciente se fazendo dizer o que não pode ser dito
pelo Eu. Excesso, que vai além do Eu consciente, que pertence ao inconsciente.
Por serem, os atos falhos, passíveis de acontecer a qualquer pessoa, até nas
chamadas “sadias”, muitas vezes não são tão estudados quanto outros processos
psíquicos. Isto é uma pena, pois é com a confirmação do ato falho que se pôde
provar o quanto o inconsciente pode atuar no dia-a-dia e o quanto ele pode expor as
pessoas, mesmo sem perceber, aos conteúdos inconscientes.
É