Atividade De Portugu S Dia 23
[Baseado em história real] Lucila tinha cabelos encaracolados. Era sorridente e mais baixa do que o normal. Desde que a conheci, no primário em São Paulo, fiquei apaixonado. Pensava nela quando subia na jabuticabeira de casa, para observar o suicídio das frutas maduras que se atiravam aleatoriamente dos galhos, enquanto minhas irmãs corriam para o quintal. Havia um canto debaixo da escada da garagem. Era o meu canto. Por que adoramos tocas? Meu pai decidiu se mudar para o Rio de Janeiro. Quando me comunicaram a notícia, sofri antecipadamente de saudades. Lucila... Como seria a minha vida sem ela? Que desgraça! A primeira coisa em que pensei foi fugir de casa, para marcar posição e o meu protesto. Fui corrompido pela oferta de uma enorme festa só minha. Toda a escola seria convidada. Lucila então conheceria minha casa, minha árvore, meu canto. Correria pelo quintal. Brincaríamos. Apareceu uma multidão. A casa parecia uma quermesse. Teve palhaço e mágico. Eu nem sabia que tinha tantos amigos. A maioria eu não conhecia. Era difícil se locomover entre tanta gente. Não encontrava a minha amada. Me lembro que, num certo momento, me escondi na garagem, sufocado, estressado. E ela apareceu para se despedir, com aquele cabelo dourado cacheado como molas. Lucila era a fim de mim também, eu tinha certeza. Ficamos juntos conversando. Toda a escola respeitou a nossa privacidade. Nos demos as mãos e fomos ver outro número do palhaço. Passamos o resto do tempo grudados. Foi uma única vez em que demos vazão para o nosso amor. Se eu não tivesse que me mudar, eu sabia, seríamos o casal mais feliz da cidade, eu, com 6 anos, e ela, com 5. Como a vida atrapalha histórias de amor... Que lição meu pai me dava, ao me amputar a paixão. Vivi no Rio com saudades. Pensava, sonhava, imaginava. Lucila. Lá encontrei meu amigo Eduardo, outro paulista exilado. Estudamos na mesma classe. Edu já estava enturmado, o que me ajudou no convívio. Ele também tinha irmãs.