Aterro do Rio Sergipe

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Sobre um duro paredão de concreto, as águas, num impulso vivo, conversam com a calçada. A tarde toda é assim. O sol vai caindo e os estampidos da briga entre esses dois titãs - paredão e águas - são os únicos sons que se conformam no ambiente entre buzinadas e o ronco de motores no bairro 13 de Julho. Assim, a saída para silenciar esta contenda está posta pelo governo municipal de Aracaju: aterrar o Rio Sergipe. Sandoval Nascimento Santos, 54, o Bóca, desde criança tem na sua relação com o rio o aspecto constitutivo de sua vida. É uma relação tão próxima que as barreiras que separam homem e natureza deixam de fazer sentido. Pescador desde os 10 anos, Bóca confessa, num sopro de indignação, que o problema central está em para quem o aterro irá servir. "Aquela obra vem para beneficiar os ricos que moram na região. Aterrar não resolve", conta. Anailza Vieira Santos, 74, moradora há 35 anos do bairro Industrial, não tira os olhos do rio. Embaixo de um pé-de-figo, ela contempla o horizonte sentada em uma simples cadeira de plástico. Quando moça, pescava siriri, com rede, no mangue do Coqueiral. Era só pra subsitência. Naquela época, tinha em abundância. Hoje, no entanto, revela com os olhos secos que a culpa pela escassez de peixes vem das grandes indústrias que despejam o lixo nas encostas. "Tão matando o mangue", denuncia. Para ela, que mora há pouco mais de 10 metros da Orlinha, o aterro vai prejudicar muito a vida de quem trabalha com a pesca. (opinião de um morador da treze e dados de observação de lá) O corpo resiste às vicissitudes do tempo. Mesmo hoje, aos 54 anos, Bóca se aventura pelo rio nas manhãs quentes do verão e enfrenta o alto mar com todos os receios durante o inverno. "Todo ano morre um. Felizmente esse ano, graças a Deus, não morreu ninguém", alerta. No rio Sergipe pescava, com fartura, robalo, bagre, pescada e corvina. Hoje, não tem quase nada. Precisa, por isso mesmo, ter outra ocupação para custear as despesas de casa. Trabalha também

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