Assim se fez
A título de ilustração, vale a pena percorrer brevemente tais registros em que constam, direta ou indiretamente, uma legítima associação. Não apenas pelo caráter histórico - que nos informa o quanto esta questão é antiga - , mas também porque essa associação sempre fez parte da história, das artes e do cotidiano, podendo ser considerada uma relação muito natural ao ser humano.
O caráter mais verificado cuja concordância permite a proliferação da combinação visual e sonora é o tempo. O tempo rege a pulsação rítmica, rege a estrutura da música, e tal dimensão temporal sugere uma associação primordialmente relacionada a instâncias que se encaixem na mesma proporção dimensional, ou seja, outras manifestações temporais, dinâmicas, tais como encenações, dramáticas ou não, litúrgicas ou profanas, rituais, dança e, mais modernamente, cinema, televisão e artes multimídia.
Na tradição da cultura ocidental, judaico-cristã, a fonte mais remota é o Antigo Testamento. A cosmogonia bíblica indica claramente o caráter imemorial e indissolúvel da união do som e da imagem, narrando "No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra, porém, estava informe e vazia, as trevas cobriam o abismo, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: 'Faça-se a Luz! (Gênesis, I, 1-3)" A criação dos céus e da terra prescinde do som, da palavra; a criação da luz, porém, é concomitante ao verbo, que pressupõe o som proferido na ordem: "Faça-se a Luz! - e a luz se fez". Numa primeira análise, do mesmo significado parece compartilhar São