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TEXTO 13 - MODERNIDADE E MÍDIA: O CREPÚSCULO DA ÉTICAOlgária Matos
A preocupação com a ética nas democracias ocidentais contemporâneas revela-se por sua presença enfática nas reflexões filosóficas, instituições jurídicas, bioética, ações humanitárias, salvaguarda ao meio-ambiente, moralização dos negócios públicos e da política; comparece nos debates sobre a lei do aborto ou assédio sexual, cruzadas antidrogas e no combate antitabagista; encontra-se nas campanhas de caridade e na mídia. Uma tal mobilização se instala em um espaço deixado vazio pelo eclipsamento da tradição herdada da Grécia, Roma, Jerusalém: a phylia grega (laço afetivo das relações no espaço público), o direito civil romano que fazia de todos os homens do Império um cidadão, a herança judaico-cristã das máximas – “amarás ao próximo como a ti mesmo” e “não matarás”. A palavra ethos aparece pela primeira vez em Homero, na Ilíada, significando “toca”, “caverna”, “morada”. Antes de referir-se ao caráter ético e à virtude, ethos é pertencimento numinoso, a partir do qual construir e habitar são tarefas que participam do sagrado, da indivisão antiga entre os homens, a natureza e os deuses. Na mais modesta casa, o homem imita a obra do deus, “cosmizando” o caos, santificando seu pequeno cosmos, fazendo-o semelhante ao divino. Permanecendo em um lugar determinado e determinável, a maneira de habitar é criação de valores, é ethos pelo qual a perfeição dos deuses se prolonga e se manifesta na ordem e na beleza do universo – o que na Grécia clássica passou a significar busca da harmonia de uma cidade governada pela justiça, na elegância de uma vida de moderação e autarquia. Na Ciência, o Sentido não é, como na ciência moderna, algo a ser construído, mas decifrado, revelado. Diferentemente da física moderna, a physis não é um reservatório de matérias e materiais que o homem submete por ser, na expressão de Descartes, “seu senhor e possuidor”. Tudo o que o homem grego consegue saber, quer