as metamorfose do governo representativo
TEXTO FUNDAMENTAL
DUAS FACES DO PODER1
Peter Bachrach
Morton S. Baratz
RESUMO
Este artigo apresenta duas concepções de poder, a partir do exame e da crítica de duas tradições de pesquisa. A tradição sociológica, que originou a corrente elitista, postula a existência do poder nas comunidades; a tradição politológica, que originou a corrente pluralista, questiona a existência de elites dirigentes em comunidades e instituições. O artigo argumenta que a tradição elitista postula o que deve ser provado, ao passo que a pluralista está correta em investigar se há de fato grupos governantes nas sociedades, mas sua abordagem é restrita e deixa de lado um aspecto essencial da questão. Assim, os autores do artigo argumentam que, anteriormente à face visível do poder, manifestada pelos indivíduos e grupos que tomam efetivamente as decisões (ou que impõem os vetos), os pesquisadores devem prestar atenção à face invisível do poder. Essa outra face consiste na capacidade que indivíduos ou grupos têm de controlar ou manipular os valores sociais e políticos (isto é, de “mobilizar vieses”), impedindo que temas potencialmente perigosos para seus interesses e perspectivas sejam objeto de discussão e deliberação pública. PALAVRAS-CHAVE: poder; pluralismo; elitismo; não-decisão; mobilização de viés; elite dirigente.
I. INTRODUÇÃO2
O conceito do poder permanece vago, a despeito da recente e prolífica expansão de estudos de caso sobre o poder em comunidades. Sua vagueza é dramaticamente demonstrada pela regularidade do desacordo entre sociólogos e cientistas políticos sobre o lócus do poder em comunidades entre os sociólogos e os cientistas políticos. Pesquisadores orientados sociologicamente descobriram de maneira consistente que o poder é altamente centralizado, enquanto investigadores treinados na Ciência Política concluíram com a mesma regularidade que em
“suas” comunidades o poder