As diferentes formas de se fazer história
História do Brasil Contemporâneo
Jornalismo
As diferentes formas de se fazer História
“Narradores de Javé” (2001, direção de Eliane Caffé) narra a trajetória de um vilarejo do sul da Bahia, chamado Javé, e seus habitantes. Retratados de forma peculiar, os moradores são, em sua maioria, analfabetos. Com poucas ambições e conhecimentos, eles vivem amparados nas lembranças que possuem – ou inventam – do que um dia foi a gloriosa descoberta e os primeiros momentos do vale. E todas estas lembranças são passadas, de geração em geração, na forma oral.
Na trama, a comunidade passa pela difícil situação de tentar salvar o vale de ser submerso pelas águas, conforme determinou um projeto do Governo do Estado da Bahia. A ideia de construírem uma represa no local, visando o progresso do estado, não é bem recebida pelos moradores, que passam a procurar maneiras de parar o projeto. A solução encontrada é juntar todas as lembranças dos moradores e escrever a História de Javé em um livro, de modo a resgatar a cultura e identidade do vilarejo, fazendo com que ele se torne patrimônio oficial do país e seja tombado. Eles acreditam que, registrando a história da aldeia, esta passará a compor o quadro sociocultural do país.
Eles recorrem, em última instância, a Antônio Biá, o único habitante letrado. Depois de ter difamado toda a população através de cartas para conseguir manter o fluxo de cartas ativo em Javé e, consequentemente, o emprego de carteiro, Biá havia sido banido do círculo social do vale. A chance de Biá redimir-se é imposta através de sua nova obrigação: é ele quem terá que ouvir os habitantes e transcrever as histórias.
A partir deste ponto, o filme, que tem como tema a diferença entre a linguagem oral e a linguagem escrita e a importância destas na formação da identidade de uma civilização, toca em alguns pontos comuns à nossa própria história. Antonio Biá passa de vilão para herói,