Artigo
Durante a conferência de abertura, pronunciada pelo Dr. José Bengoa, sobre os 25 anos de mudanças na temática dos estudos sobre o universo rural da América Latina, sobretudo em sua vertente hispânica, pudemos ter acesso a um panorama denso das transformações recentes no continente americano. Tendo tido oportunidade de realizar um exercício semelhante para congresso da ANPOCS (Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais) em outubro último,2 em retrospectiva do tratamento da questão agrária no Brasil nas três últimas décadas, gostaria de me ater, nesta oportunidade, ao peso da matriz social hierárquica legada pela plantation colonial.
O tema que proponho discutir aqui é o destino da célebre dualidade entre senhores e escravos, mais precisamente sobre o itinerário diferencial de descendentes dos senhores e descendentes dos escravos, ou ainda, para retomar a formulação famosa de Gilberto Freyre, as transformações da oposição casa-grande e senzala, para melhor poder captar os desafios postos pelo momento presente.
Durante a conferência inaugural, José Bengoa tomou como uma de suas referências centrais o famoso artigo dos antropólogos norte-americanos Eric Wolf e Sidney Mintz — "Haciendas and plantations in the new world"3 — para pensar o destino do poder social dos proprietários de haciendas. No momento dos debates, o sociólogo argentino Miguel Murmis questionou-o sobre se as reflexões anteriormente apresentadas tinham por único referente as "haciendas" ou também incluíam as grandes plantações mais integradas ao mercado internacional; em outros termos, o que se poderia pensar sobre o destino social dos proprietários de plantation — a fração mais integrada ao mercado internacional?
Refletir sobre o campo brasileiro, sobretudo a propósito das transformações do século XX, significa necessariamente tomar por objeto o mundo da plantation, mais precisamente, as grandes plantações de café, de cana de açúcar, de cacau, de algodão, sisal ou