Artes da existência: Foucault, a Psicanálise e as práticas clínicas – João leite Ferreia Neto
Desde seu início de estudos, Foucault se interessou muito pela Psicologia, no qual obteve sua licenciatura. Apesar das crises emocionais constantes, nunca se decidiu por um tratamento clínico. Sua conclusão é que a psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura, pois esta é que detém a verdade sobre a psicologia. Foucault hesita em classificar a psicanálise como uma psicologia; ele a define como uma forma de psicologia que valoriza o sentido, mas que é uma experiência da desrazão. A relação libertadora da psicanálise com a loucura é apenas uma possibilidade, jamais realizada de fato. Sua interpretação da clínica psicanalítica é apontada três aspectos fundadores e ao mesmo tempo problemáticos dessa prática. No 1º, anuncia que a psicanálise tem uma organização social, a “sociedade disciplinar”, na qual o poder é exercido de modo difuso e descentrado. No 2º, aponta para a regra técnica em que o paciente deve dizer tudo e nada fazer a não ser dizer. É a “cura pela palavra” que hipertrofia os poderes do campo da fala e da linguagem. Por último, denuncia a supervalorização do espaço do tratamento como centro e origem dos efeitos importantes que advirão na vida do paciente. Recusa a perspectiva do divã como forma única de tratamento. Foucault entende que a descoberta mais importante da psicanálise “não é a teoria do desenvolvimento, não é o segredo sexual atrás das neuroses e das psicoses, é uma lógica do inconsciente” (Foucault, 1979, p. 261). A crítica à psicanálise atenua-se em 1966 e posteriormente, Foucault reprova a pretensão de se fazer da psicanálise uma ciência, pois antes de buscar saber se a psicanálise pode ser científica, importa “interrogar sobre a ambição de poder que a pretensão de ser uma ciência traz consigo” (Foucault, 1979, p. 172) Sob a visão de Foucault, a psicanálise não é uma entidade coesa e monolítica mas bastante duvidosas e