Arquitetura
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Conceitos Fundamentais da História da Arte
Tão perverso quanto “focar o ponto do primeiro impacto” na obra seria categorizar a estética de Matisse a partir da dicotomia pictórico/ linear, tratada por Wolfflin em seu estudo da tradição artística ocidental.
No entanto, ainda que insuficientes como padrão objetivo de análise, os conceitos de linear e pictórico de Wolfflin nos servem sobremaneira para investigar como Matisse manipulou os “conceitos fundamentais da história da arte” de maneira a subvertê-los conceitualmente.
Primeiramente, vejamos como Wolfflin descreve o estilo pictórico no
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século XVI:
Os traços têm agora somente um ponto em comum: o fato de produzirem o efeito de massas e o fato de submergirem, até certo ponto, na impressão do conjunto.
[...] não apelam para o senso plástico do tato, reproduzindo mais a aparência óptica, sem prejuízo do efeito material. Vistos isoladamente, eles [traços] nos parecem bastante sem sentido, mas para a visão do conjunto, unem-se em um efeito particularmente rico. 33
Percebemos que Wolfflin prefere utilizar o termo traço (Striche) em vez de linha (Linie), de acordo com o escrito original:
“[...] haben die Striche jetzt nur das eine gemeinsam: daß sie als Masse wirken und daß sie bis zu einem gewissen Grad im Eindruck des Ganzen untergehen.”34 (grifo nosso)
O traço sugere um gesto rápido, enquanto a linha um gesto contínuo.
Quando falamos de traço em Matisse, falamos de cor, não de linha. Os traços na “Alegria de viver” não submergem, em momento algum, na impressão do conjunto. São elementos cromáticos que configuram as
33
WOLFFLIN, Heinrich. Conceitos fundamentais da história da arte. Martins Fontes:
São Paulo, 2006. p. 46.
34
WOLFFLIN, Heinrich. Kunstgeschichtliche Grundbegriffe: das Problem der
Stilentwicklung in der neueren Kunst. Munchen: F. Bruckmann, 1915, p. 38
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gramas vermelhas, roxas, amarelas, bem como