Arquitetur e arquétipo na construção do mundo

ARQUITETURA E ARQUÉTIPO NA CONSTRUÇÃO DO MUNDO: uma reflexão sobre o simbolismo do centro.
Antonio Busnardo Filho.

Para a Professora Anna Mathilde Chaves Nagelschmidt.

“Assim fizeram os deuses; assim fazem os homens” (Taîttirîya Brâhmana, Cf. Eliade, 1992, 29)

Valéry em “Eupalinos ou O Arquiteto” faz uma reflexão sobre o processo de criação que origina as obras arquitetônicas e que as institui como símbolos de suas épocas, mediando, pelo inefável que há na constituição estética da arquitetura, sua funcionalidade e seu simbolismo. Há nesta preocupação pelo inefável, enquanto elemento estruturador de um pensamento ou da invenção, uma transcendência do objeto criado para o sujeito criador, de tal modo, que ao se trabalhar com a essência da criação, os limites entre objeto e sujeito ficam extremamente porosos que se torna indistinto quem cria, daquilo que é criado; pois o criador, também, se constrói à medida em que dá forma à sua idéia. Os limites são as vicissitudes da criação, que devido às instabilidades que lhe são inerentes, inserem no método de trabalho do criador, o acaso. Os pensamentos são voláteis e as idéias, translúcidas; e, antes da criação, um não-sei-quê já existia nas trevas do ainda desconhecido, porque este não-sei-quê traz como essência algo que já é sabido ou deverá ser sabido, mesmo que não seja estendido ao real, por designar um local vazio mas já delimitado. É nesta porosidade, nesta característica inefável da obra, que Valéry situa a ação criadora; a ação que será um fiat lux nas trevas da inoperância às quais, os indivíduos, em busca de um comodismo mórbido, se

entregam. A criação exige o verbo que é tanto a sabedoria eterna como a ação que propicia o surgimento de algo ou de alguma coisa das trevas primordiais. O primeiro ato criador de Deus foi fazer a Luz, que surgiu das Trevas e iluminou, por sua vez, o espaço, suporte da criação Divina. O que houve, deste momento em diante, no processo da criação, foi uma partição do espaço