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UM PROJETO ILUMINISTA
NO PÓS-GUERRA FRANCÊS
Cristina Diniz Mendonça
Nous ne voulons rien manquer de notre temps: peut-être en est-il de plus beaux, mais c'est le nôtre; nous n'avons que cette vie à vivre, au milieu de cette guerre, de cette révolution peut-être (presentation des Temps Modernes).
"Todo autor que se preza, quando pega a caneta, quer indicar entre outras coisas a hora histórica." Se esta afirmação, feita recentemente por
Roberto Schwarz (entrevista, Folha de S. Paulo, 8/11/87), pode parecer estranha para o leitor habituado às atuais divagações pós-modernas, ela descreve perfeitamente o projeto do movimento "existencialista" nascido no pós-guerra francês. É justamente procurando "indicar a hora histórica" que a "ofensiva existencialista", conforme expressão de Simone de Beauvoir, irrompe na cena intelectual francesa daqueles idos de 40. Seu propósito
— cuja importância é ainda mais realçada quando se tem em mente o atual deserto cultural da França, completamente esterilizada pela voga melancólica do pós-moderno — era, ao mesmo tempo, acertar o passo com a história e as contas com a tradição "espiritualista" acadêmica francesa. Se o "primado do espiritual" havia caracterizado a cultura filosófica francesa até então vigente e se, nos nossos dias, Paris se tornou, segundo Perry Anderson, "a capital da reação intelectual européia" (1, p. 38), é bom lembrar, como disse ainda o mesmo autor, que, "após a Libertação, a França veio a gozar de uma soberania cosmopolita no universo marxista global, que lembra, a seu próprio modo, algo da ascendência francesa na época do Iluminismo" (1, p. 37). O que teria permitido então o famoso interregno "existencialista" — os belos "anos Sartre"?
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UM PROJETO ILUMINISTA NO PÓS-GUERRA FRANCÊS
"Foi a guerra — escreveu Sartre nas célebres páginas da Questão de Método — que fez explodir os quadros envelhecidos de nosso pensamento. A guerra, a ocupação, a resistência, os