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Mar

Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

Análise do poema "Mar"
Este poema, o “Mar” faz parte da obra “In Poesia I” de Sophia de Melho Breyner Andreson.
É perfeitamente evidente que toda a poesia de Sophia de Melho Breyner, estabelece uma relação entre o sujeito-poético as coisas e o mundo. A palavra assume-se como um agente de transfiguração da realidade que revela o divino e o terreno, como podemos verificar neste poema, quando evoca o mar e os astros.
O sujeito-poético, como já foi referido anteriormente, conserva e reforça continuamente uma relação privilegiada com o mar, o vento e os astros, abrindo os seus sentidos na captação das sensações da natureza, como podemos verificar nos seguintes versos “E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia / Mais fortes se levantam outra vez”; “E se vou dizendo aos astros o meu mal” e “Fazes soar a tua dor pelas alturas”.
As experiencias vividas junto ao mar, evocadas pelo cheiro do oceano (maresia), ou melhor aquelas que podiam ter sido vividas, têm grande importância, pois revelam que este espaço não é apenas pano de fundo para os sentimentos ou acontecimentos, mas sim parte deles. A percepção da paisagem, pelo sujeito-poético faz parte do seu próprio sentir, pensar e conhecimento, uma vez que o mar faz parte de si, isto é da sua vida.
Em todo o poema, o sujeito-poético evidencia o mar, ligando-o aos seus sentimentos e sua identidade “Mar, metade da minha alma é feita de maresia / Pois é pela mesma inquietação e

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