Apocrifo de Bartolomeu
I
Depois que Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou de entre os mortos, acercou-se dele Bartolomeu e abordou-o desta maneira:
— Desvela-nos, Senhor, os mistérios dos céus.
Jesus respondeu-lhe:
— Se não me despojar deste corpo carnal não os poderei desvelar.
Bartolomeu, pois, acercando-se do Senhor, disse-lhe:
—Tenho algo a dizer-lhe, Senhor.
Jesus, por sua vez, respondeu:
— Já sei o que me vais dizer. Dize-me, pois, o que quiseres. Pergunta e eu te darei a razão.
Bartolomeu, então, falou:
— Quando ias no caminho da cruz, eu te segui de longe. E te vi a ti, dependurado no lenho, e os anjos que, descendo dos céus, te adoraram. Ao sobrevirem as trevas e eu estava a tudo contemplando. Eu vi como desapareceste da cruz e só pude ouvir os lamentos e o ranger de dentes que se produziram subitamente das entranhas da terra. Dize-me, Senhor, onde foste depois da cruz.
Jesus, então, respondeu desta forma:
— Feliz de ti, Bartolomeu, meu amado, porque te foi dado contemplar este mistério. Agora podes perguntar-me qualquer coisa que a ti ocorra, porque tudo dar-te-ei eu a conhecer. Quando desapareci da cruz, desci aos Infernos para dali tirar Adão e a todos que com ele se encontravam, cedendo às suplicas do arcanjo Gabriel.
Então disse Bartolomeu:
— E o que significa aquela voz que se ouviu?
Responde-lhe Jesus:
— Era a voz do Tártaro que dizia a Belial: a meu modo de ver, Deus se fez presente aqui. Quando desci, pois, com meus anjos ao Inferno para romper os ferrolhos e as portas de bronze, dizia ele ao Diabo: parece-me que é como se Deus tivesse vindo à terra. E os anjos dirigiram seus clamores às potestades, dizendo: levantai, ó príncipes, as portas e fazei correr as cortinas eternas, porque o Reino da Glória vai descer à terra. E o Inferno disse: quem é esse Rei da Glória que vem do céu a nós? Mas quando já havia descido quinhentos passos, o Inferno encheu-se de turbação e disse: parece-me que é Deus que baixa à terra, pois