Apesar de voce
O ex-ministro permaneceu imóvel enquanto escutava; tentando controlar as expressões faciais. Mesmo assim dava para perceber tristeza e angústia em seu semblante. Mas ele não deixou que suas palavras também o traíssem e ditou, com todas as vírgulas e pontos:
-Essa música é uma beleza. A melodia é linda e a letra exprime um estado de alma e juventude, o que é perfeitamente compreensível. Aliás, apreciando, como eu aprecio a arte de Chico Buarque de Hollanda, só posso ter palavras de elogio ao grande compositor dos nossos tempos.
-Mas, doutor Gama, ele está atacando a classe política revolucionária da qual o senhor lhe dá essa resposta! Eu gostaria que o senhor comentasse a letra da música.
-Olha, essa semana que o AI-5 fez dez anos, eu fui procurado por jornalistas de todos os órgãos de imprensa para dar entrevistas e não atendi nenhum. Para você eu abri uma exceção, mas sobre a letra mesmo eu não vou fazer comentário nenhum. Fica assim: eu faço um comentário genérico e elogioso para o Chico, e quem sabe amanhã ele pode até fazer uma música para mim.
O repórter aproveitou a ocasião e pediu a Gama e Silva que falasse do AI-5.
Ele falou:
-O AI-5 foi feito para defender o povo brasileiro da corrupção e da subversão, e seria extinto em pouco tempo. Mas aí veio a doença do Costa e depois disso eu já não respondo mais pelo uso que fizeram do AI-5. Além do mais, apenas um décimo dos punidos pela revolução o foram com base no AI-5. E dos AI-2, AI-3, ninguém fala nada?
A professora Jessita Nogueira, um dos quatro coordenadores do "Livro negro da USP, o controle