Análise a hora da estrela
A nordestina simplesmente ostenta a vida mais sofrida que já constatei em minhas caminhadas errantes pelo mundo literário. Podemos fazer um paralelo entre A Hora da Estrela e Vidas Secas de Graciliano Ramos. Nas duas obras os protagonistas estão resignados com as vidas que têm, no entanto, Fabiano tem consciência da posição que ocupa na sociedade (é um bicho movido pelos instintos – palavras do próprio Fabiano) já Macabéa, não possui essa visão crítica pelo simples fato de não se questionar. Esse comportamento passivo a tudo é fruto da educação rígida e cruel que recebeu de sua tia no sertão nordestino. O fato é que ambos são vitimados pelo determinismo selvagem do sertão nordestino.
O enredo nos prende através de duas ferramentas usadas por Clarice: a tensão que Rodrigo S.M. sofre através do processo de descrição da vida de sua personagem, o que o faz refletir sobre a finalidade de sua existência e o propósito pelo qual é escritor. Rodrigo diz que escreve porque o ato de escrever é a única coisa que dá sentido a sua vida, mas no fundo podemos notar que ele escreve de maneira forçada. Pode-se concluir que o autor fictício é uma pessoa inconformada com a realidade dramática de alguns brasileiros, e mais: ele se sente culpado pela infelicidade dos infelizes, e decide relatar a história de Macabéa como forma redenção.
A outra ferramente utilizada é a ingenuidade - seria exageiro falar em cegueira? - de Macabéa. O leitor acaba ficando chocado com a incapacidade da nordestina de enxergar o seu estado. Ela é invisível para todos, menos para Rodrigo e para nós, leitores, e não consegue perceber essa invisibilidade. Isso nos causa um sentimento de extrema agonia e impotência. Arrisco dizer que Clarice escreveu este livro para cada leitor se sentir