Análise Literária - Clara dos Anjos
A análise literária vem ganhando cada vez mais espaço e importância no exercício do ofício do historiador. Inserida dento de um determinado contexto histórico, as produções literárias permitem ao historiador atento identificar formas, estruturas, permanências e até mesmo “existências” que a história oficial intenta mascarar e/ou ocultar. Isto se dá devido o fato de que a literatura, como outras formas de expressão humana, é uma forma de linguagem, e que esta, por sua vez está presente em toda atividade humana, ignorando soberanamente os grilhões impostos pelas divisões sociais. Sendo produzida pelas relações humanas, a linguagem desempenha um papel ativo, constituindo um elemento modelador dessas relações.
Partindo deste pressuposto, Nicolau Sevcenko em sua obra “Literatura como Missão” irá propor uma análise da sociedade brasileira, em destaque a sociedade carioca, no fim do século XIX e início do XX tendo como “pano de fundo” as produções literárias destas décadas – período que é caracterizado pelas transformações sociais ocorridas durante a implantação da República. A justificativa do autor com relação ao uso deste tipo de documento é que:
“...ela [a literatura] aparece como um ângulo estratégico notável, para a avaliação das forças e dos níveis de tensão existentes no seio de uma determinada estrutura social.”1
Desta maneira, o objetivo deste texto é analisar a Introdução e o primeiro capítulo da obra de Sevcenko – “A Inserção Compulsória do Brasil na Belle Époque” – demonstrando em seguida aspectos gerais da obra Clara dos Anjos, de Lima Barreto, autor que vivenciou e experimentou as vicissitudes do período histórico apresentado por Sevcenko.
PANORAMA HISTÓRICO-SOCIAL DO RIO DE JANEIRO (1889-1910)
O advento da República trouxe no seu bojo um processo de desestabilização e de reajuste social que visavam eliminar os elementos que eram considerados prejudiciais à implantação e manutenção do novo regime. Num primeiro momento, procurava-se