Análise do Trabalho de Antônio Prata
Lydia Assad
Seria o tempo o equilíbrio entre o drama e a comédia? O que hoje é motivo de preocupação e agonia pode ser visto com riso depois? Os temas do dia a dia (relacionamentos, costumes, empregos, política), entretanto, formam um grupo de assuntos que pelo tempo caminham para a irrelevância e se tornam substituíveis.
Para colocar essa realidade a prova, o mundo cria o cronista. Esse cidadão que viaja ao futuro e ao passado e consegue contar o que pensariam as personagens que por lá escutam as histórias do louco presente. Um papel que adquire ainda mais importância na internet, onde a bronca parece ser interminável e o humor, quase ausente. Tarefa quase impossível, pois revelar os fatos com o melhor da ironia exige inspiração precisa.
Eis que encontro um escritor leve e irônico. Sarcástico. Nas crônicas que li, Antônio Prata se revela um típico paulista que no bom tom e na ausência dele apresenta as peripécias e pensamentos de uma vida normal. Discorrer sobre a foto do jornal de ontem, mencionando que todo o fotojornalismo brasileiro gira em torno da mulher bonita ilustrando a cena, ou, até mesmo, falar sobre a cólica da filha que deixa o pai acordado a noite inteira e que por isso, o mesmo pai, decide escrever pensamentos aleatórios, não pode ser tarefa fácil. Isso tudo com uma carga de política e ironia que faz os mais conservadores mexerem na cadeira e esbravejarem nos comentários.
Nos textos mais polêmicos, a caixa está lotada de erros de interpretação. Leitores que veem na figura do autor um ar de “quero ser deus” e que tenta exprimir opiniões incontestáveis. Será que o público letrado ainda não tem a capacidade de interpretar uma ironia latente e gritante? “Humor é um brinquedo ambíguo” (Prata, 2012), afirma Antônio em uma de suas crônicas. E brincando com bom humor e sarcasmo, o autor consegue unir em um só estilo, crônicas que fazem rir, chorar, se emocionar e até esbravejar, brigar e passar muita, muita raiva.
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