ANÁLISE DO POEMA “SONETO DE FIDELIDADE” DE VINICIUS DE MORAES
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.
O “Soneto de Fidelidade” de Vinicius de Moraes foi escrito em outubro de 1939, durante o segundo período do modernismo, e publicado originalmente no livro “Poemas, sonetos e baladas” em 1946. Ele possui caracteristicas neoclássicas – como o vocabulário culto, a clareza e a concisão de linguagem diversas inversões sintáticas e uma chave de ouro. “Notamos que se trata de um poema lírico quando uma voz central sente um estado de alma e o traduz por meio de um discurso mais ou menos ritmico.” 1 O poema tem a forma fixa de um soneto clássico (ou italiano) é composto por 14 versos, distribuídos em dois quartetos seguidos de dois tercetos; todos os seus versos possuem dez sílabas poéticas, ou seja, são decassílabos; com esquema de rimas abba nos dois quartetos e esquema de rimas cde dec nos tercetos. De acordo com Manuel Bandeira: “O soneto italiano compõe-se de dois quartetos e dois tercetos. A distribuição das rimas é muito variável. No soneto clássico os quartetos são construídos sobre duas rimas; os tercetos sobre duas ou três”2. Nas duas primeiras estrofes, faz-se o uso de rimas emparelhadas ou rimas enlaçadas, que “rimam em parelha dois versos entre outros