Análise do conto Amor - Clarice Lipector
Franz Kafka O presente ensaio tem como proposta uma análise do conto Amor, de Clarice Lispector, a partir do olhar de dois autores que se debruçam sobre as relações entre os homens na modernidade: Sigmund Freud e Zygmunt Bauman.
O conto tem início num final de tarde em que a personagem Ana sobe em um bonde com as compras, pensando em seus filhos, sua casa, e na forma como construiu um cotidiano onde se abriga das emoções e das incertezas e reflete sobre uma vida construída de forma a não abrir espaço para grandes paixões:
“Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha – com persistência, continuidade, alegria”.
Ana represara a felicidade em busca de segurança, pois, segundo Freud, o que chamamos de felicidade seria a satisfação das necessidades, mas que só é possível como manifestação episódica.
Ana havia se tornado alguém obscuro, ou, como ela mesma se representava, alguém que “fazia parte das raízes negras e suaves do mundo”. Abolindo a incerteza e a emoção, restava apenas o cotidiano, no qual ela mergulhara para estar em segurança. Assim, Ana possuía uma vida na qual os dias se sucediam, uns iguais aos outros, e isto lhe dava tranqüilidade:
“Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida”.
Ao conter