Análise de uma cantiga de amor
Levad', amigo, que dormides as manhanas frias tôdalas aves do mundo d'amor dizia[m]: leda m'and'eu.
Levad', amigo que dormide'las frias manhanas tôdalas aves do mundo d'amor cantavam: leda m'and'eu.
Tôdalas aves do mundo d'amor diziam, do meu amor e do voss[o] em ment'haviam: leda m'and'eu.
Tôdalas aves do mundo d'amor cantavam, do meu amor e do voss[o] i enmentavam: leda m'and'eu.
Do meu amor e do voss[o] em ment'haviam vós lhi tolhestes os ramos em que siíam: leda m'and'eu.
Do meu amor e do voss[o] i enmentavam vós lhi tolhestes os ramos em que pousavam: leda m'and'eu.
Vós lhi tolhestes os ramos em que siíam e lhis secastes as fontes em que beviam; leda m'and'eu
Vós lhi tolhestes os ramos em que pousavam e lhis secastes as fontes u se banhavam; leda m'and'eu
Nelson Fernandes Torneol
Análise da cantiga:
Na cantiga em análise é uma alba.
É fácil identificar a menção aos elementos da manhã – o canto das aves e a própria citação à manhã fria - e à ausência do amante, que partiu – as fontes em que bebiam estão agora secas e os ramos em que se sentavam foram retiradas.
A cantiga narra dois momentos:
O primeiro, mais alegre, de presença do amado, quando as aves cantam e a donzela tem que dizer-lhe que levante após ter dormido a fria manhã. Esse cenário é descrito nas quatro primeiras estrofes (versos 1 a 12).
O segundo momento, mais triste, narra a donzela ao perceber os sinais da ausência do amante - foram tolhidos os ramos onde se sentaram. As aves do mundo de amor já não cantam- Esse segundo cenário é descrito nas estrofes seguintes (versos 13 a 24).
O refrão no início parece esperançoso mas ganha ares de desilusão à medida que a cantiga segue.
É paralelismo perfeito.
Verso 2 – Verso 7
Verso 5- Verso10
Verso 8- Verso13
E assim sucessivamente, numa composição sonora e encadeada.