Análise - Carta Relatório de Pero Vaz de Caminha
RESUMO
A carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal D. Manuel I constitui uma narrativa minuciosa daquilo que ele observara em Porto Seguro durante os dias de permanência da frota que se dirigia para a Índia. A ênfase incide sobre os habitantes da terra descoberta, seus costumes, seu modo de vida, acentuando a impossibilidade de comunicação verbal e a necessidade de ali deixar degredados que, vivendo com os nativos, pudessem aprender sua língua. Como não conseguiu descobrir se ali haveria ouro ou prata, Caminha aponta ao rei a agricultura como a forma de aproveitar aquele território, que seria útil também como porto de abrigo na viagem para o Oriente.
A carta e suas propriedades:
Os “homens pardos”
O foco descritivo de Caminha incidiu sobre os habitantes dessa terra desconhecida. Em primeiro lugar, atentou em seus rostos: “A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes”. Em seguida observou: “Andam nus sem nenhuma cobertura”, ostentando seus corpos “com tanta inocência como têm em mostrar o rosto”. Esses homens pardos, todos nus, “sem nenhuma coisa que lhes cobrisse suas vergonhas”, desconheciam o pudor dos homens brancos.
Em relação aos corpos femininos, sua admiração foi calorosamente expressa, referindo as moças “bem gentis com cabelos muito pretos compridos pelas espáduas e suas vergonhas tão altas e saradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha”. Ao atentar nas mulheres nativas, a comparação com as europeias foi explicitada ao mencionar uma moça tão benfeita “e tão redonda”, com “sua vergonha” tão graciosa, que “a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais feições, fizera vergonha por não terem a sua como ela”, em um recurso literário aos dois sentidos da palavra vergonha: órgão sexual e sentimento.
Quer os corpos femininos, quer os masculinos, foram considerados belos, limpos, inocentes, o que certamente