O Amor é uma Falácia M. Sulman Eu era frio e lógico. Sutil, calculista, perspicaz, arguto e astuto - era tudo isso. Tinha um cérebro poderoso como um dínamo, preciso como uma balança de farmácia, penetrante como um bisturi. E tinha - imaginem só - dezoito anos. Não é comum ver alguém tão jovem com um intelecto tão gigantesco. Tomem, por exemplo, o caso do meu companheiro de quarto na universidade, Pettey Bellows. Mesma idade, mesma formação, mas burro como uma porta. Um bom sujeito, compreendam, mas sem nada lá em cima. Do tipo emocional. Instável, impressionável. Pior do que tudo, dado a manias. Eu afirmo que a mania é a própria negação da razão. Deixar-se levar por qualquer nova moda que apareça, entregar-se a alguma idiotice só porque os outros a seguem, isto, para mim, é o cúmulo da insensatez. Petey, no entanto, não pensava assim. Certa tarde, encontrei-o deitado na cama com tal expressão de sofrimento no rosto que o meu diagnóstico foi imediato: apendicite. - Não se mexa. Não tome laxante. Vou chamar o médico. - Couro preto - balbuciou ele. - Couro preto? - disse eu, interrompendo a minha corrida. - Quero uma jaqueta de couro preto - disse. Percebi que o seu problema não era físico, mas mental. - Por que você quer uma jaqueta de couro preto? - Eu devia ter adivinhado - gritou ele, socando a cabeça - Devia ter adivinhado que eles voltariam com o Charleston. Como um idiota, gastei todo o meu dinheiro em livros para as aulas e agora não posso comprar uma jaqueta de couro preto. - Quer dizer - perguntei incrédulo - que estão mesmo usando jaquetas de couro preto outra vez? - Todas as pessoas importantes da universidade estão. Onde você tem andado? - Na biblioteca - respondi, citando um lugar não freqüentado pelas pessoas importantes da Universidade. Ele saltou da cama e pôs-se a andar de um lado para o outro do quarto.