Trabalho e alienação A história dos esforços humanos para subjugar a natureza é também a história da subjugação do homem pelo homem.(Max Horkheimer) 1. Visão filosófica do trabalho Vimos no capítulo anterior que, pelo trabalho, o homem transforma a natureza, e nessa atividade se distingue do animal porque sua ação é dirigida por um projeto (antecipação da ação pelo pensamento), sendo, portanto, deliberada, intencional. O trabalho estabelece a relação dialética entre a teoria e a prática, pela qual uma não pode existir sem a outra: o projeto orienta a ação e esta altera o projeto, que de novo altera a ação, fazendo com que haja mudança dos procedimentos empregados, o que gera o processo histórico. Além disso, para que o distanciamento da ação seja possível, o homem faz uso da linguagem: ao representar o mundo, torna presente no pensamento o que está ausente e comunica-se com o outro. O trabalho se realiza então, e sobretudo, como atividade coletiva. Além de transformar a natureza, humanizando-a, além de proceder à “comunhão” (à união) dos homens, o trabalho transforma o próprio homem. Todo trabalho trabalha para fazer um homem ao mesmo tempo que uma coisa”, disse o filósofo personalista Mounier. Isto significa que, pelo trabalho, o homem se autoproduz: desenvolve habilidades e imaginação: aprende a conhecer as forças da natureza e a desafiá-las; conhece as próprias forças e limitações: relaciona-se com os companheiros e vive os afetos de toda relação: impõe-se uma disciplina. O homem não permanece o mesmo, pois o trabalho altera a visão que ele tem do mundo e de si mesmo. Se num primeiro momento a natureza se apresenta aos homens como destino, o trabalho será a condição da superação dos determinismos: a transcendência é propriamente a liberdade. Por isso, a liberdade não é alguma coisa que é dada ao homem, mas o resultado da sua ação transformadora sobre o mundo, segundo seus projetos.