Algumas Reflex es acerca do filme Janela da Alma a partir de Levi
Algumas Reflexões acerca do filme Janela da Alma a partir de Levi- Strauss e Merleau-Ponty:
Em primeiro plano, digo que Merleau-Ponty faz uma crítica à ciência clássica e sua arbitrariedade, que segundo ele “manipula as coisas e renuncia a habitá-las”, ou seja, apresenta a ciência de forma metafórica como o Espírito, o próprio Deus em sua onipotência, que tudo faz, mas de forma alheia à criação, à parte, sem levar em consideração o ser manipulado como um todo. Ao contrário, essa ciência trata o ser de forma objetiva, “como objeto em geral”, distanciada, fragmentada, “isto é, a um tempo como se ele nada fosse para nós, e, no entanto, se achasse predestinado aos nossos artifícios”.
Nesse sentido, Ponty chama a atenção da ciência clássica para levar em consideração o ser não como objeto, mas ontologicamente, ou seja, ocupar-se do ser enquanto ser, isto é independente de suas determinações particulares, numa tradução rasteira do que seria a onotologia. Não se deve reduzir algo a uma fórmula matemática, uma receita de bolo, um algoritmo. Dessa forma arbitária, a ciência reduz as possibilidades de resultados com o objeto, fica alheia ao que acontece universalmente. Há um distanciamento entre criador e a “coisa” criada.
Nessa visão ontológica de Merleau-Ponty, o corpo exerce fundamental importância, como bem ele se refere a uma citação de Valéry, que o “pintor, emprega seu corpo”. Ponty rebate, “e de fato, não se percebe como um Espírito poderia pintar. É oferecendo seu corpo ao mundo que o pintor transforma o mundo em pintura”. Num movimento natural, o pintor capta as sensações no mundo no seu corpo que é transportado para a tela aquilo que foi percebido, sentido, tocado com o seu corpo.
Merleau-Ponty faz recair toda sua análise e afirmação sobre o artista, principalmente sobre o pintor, quando diz “o pintor é o único que tem direito de olhar para todas as coisas