Alex Hist Ria
Marco Antonio Stancik
Nos cartões-postais trocados na época da guerra, caricaturas satíricas e fotografias patrióticas camuflavam a trágica realidade
Seria possível tratar da guerra sem associá-la a imagens de morte, sofrimento, desespero e dor? Seria possível abordá-la em cartões-postais com belas mulheres e até mesmo crianças? Você remeteria um desses cartões a seus parentes ou amigos?
Há um século começava a Primeira Guerra Mundial, na qual aproximadamente 9 milhões de vidas foram sacrificadas. Mas muitas das imagens que circularam no período omitiam essa realidade. Nos cartões-postais, a guerra era outra coisa.
O cartão postal da alsaciana incomodada com a presença do soldado alemão em sua terra alimenta os sentimentos revanchistas dos franceses. (Foto: Acervo do autor)
O costume de trocar cartões era corriqueiro e muito apreciado, antes e durante a Guerra. Muitos parecem mostrar, à primeira vista, inocentes cenas do cotidiano. Mas sua finalidade explícita era celebrar a guerra. Fosse por meio de poses de anônimos homens fardados, belas e sensuais jovens com elegantes trajes, crianças com seus brinquedos ou até senhoras idosas, os cartões eram uma estratégia para convencer a população civil e militar em favor da necessidade do confronto bélico.
Em países como a França e a Alemanha, milhões de cartões-postais foram produzidos, adquiridos, enviados, recebidos e colecionados avidamente. Tratavam da guerra e, evidentemente, de muitos outros temas. Não é de surpreender que vários deles tenham chegado ao Brasil, onde o encanto em torno daqueles pequenos retângulos ricamente ilustrados também se expandia. Em 1906, por exemplo, uma certa Antonieta, residente em São Fidélis, estado do Rio de Janeiro, informou que fizera boa viagem e registrou saudades de Iayá e de Nhaná, evidenciando intimidade com as destinatárias. Como veículo de suas notícias, escolheu um postal de teor belicista: