Agora e o amanha
A culpa, evidentemente, não é do autor do texto. Temos o privilégio de viver numa época em que qualquer um pode publicar qualquer opinião, mesmo que todos os outros habitantes do país discordem. Se a polêmica barata ganha projeção, os culpados são os leitores, que seguem lendo e compartilhando textos que detestam.
Fãs de séries de televisão criaram um verbo para isso: "hatewatch" (algo como "assistir com ódio"). É o velho hábito de acompanhar um programa ruim apenas pelo prazer de criticá-lo. Há quem faça o mesmo com a literatura. Cansei de ver leitores que se prendem a um livro ruim até a última página só para dizer, com satisfação pelo dever cumprido: "li tudo e detestei". Esse costume se repete na internet, mas há um agravante. Quando alguém de confiança nos diz que um livro ou série de televisão é péssimo, a tendência é que procuremos outra coisa para ler ou assistir. Ninguém tem horas sobrando para gastar com bobagens. Com as leituras online, o instinto é fazer o oposto. Quanto mais amigos disserem que um texto é desprezível, menores são as nossas chances de desprezá-lo. Afinal, o que são cinco minutos?
Não canso de repetir: quem diz que as pessoas leem pouco hoje em dia está enganado. Lemos muito, mas escolhemos muito mal – e às vezes parecemos nos orgulhar disso. De cinco em cinco minutos dedicados a alardear a ignorância alheia, desperdiçamos todo nosso tempo de leitura e passamos dias inteiros sem aprender nada. Com a enorme quantidade de informações que temos a nossa disposição, é preciso muito esforço para escolher sempre tão mal. Para cada texto idiota no Facebook há incontáveis leituras valiosas que podem ser feitas sem sair da frente do computador.
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