Adorno leitor de Freud
ADORNO LEITOR DE FREUD: Para além da coerção mítica da razão?
Luiz Calmon Nabuco Lastória lacalmon@uol.com.br Não seria demasiado afirmar que, concomitante ao avanço das neurociências, também a psicanálise se tornou ainda mais premente enquanto um discurso orientado no sentido de acolher o que há de mais singular na experiência humana. Refiro-me precisamente à capacidade de desejar como condição sine qua non do ser que se diz “homem”, àquilo que, por sua própria natureza, não se deixa capturar pelo desenvolvimento inexorável da racionalidade científica. Devemos hoje comparar a potência da teoria psicanalítica à de um vértice prismático capaz de proceder à decomposição espectral da gama de sintomas que afetam o sujeito contemporâneo. Pois, na contramão de toda farmacopeia demandada pela sociedade capitalista tornada “psicoativa”1, acentuadamente nas duas últimas décadas, vem se multiplicando os esforços de leituras no âmbito dessa teoria quanto ao que parece ser o mais recente tributo imposto pela cultura hodierna, visando assegurar a manutenção dos fragilizados vínculos sociais.
O papel dos fármacos no tratamento em larga escala das depressões em populações juvenis, tal como atesta o artigo “Depressão e imagens do Novo Mundo” de M. R. Kehl
(NOVAES, 2007), assim como o chamado bullying em meio aos escolares, hoje bastante difundido pelos mass media ilustram claramente essa tendência.
1.
148 – Remate de Males 30.1
Nesse vasto rol de leituras interpretativas possíveis, cuja função primordial tem sido a de alimentar os debates referentes tanto à teoria quanto à clínica psicanalítica, situa-se outra vertente de pensamento bastante sui generis. Muito embora não emane do setting clínico, nem muito menos almeje informá-lo, essa vertente encontrou nas formulações teóricas de Freud um dos seus sustentáculos basilares. Trata-se da Teoria
Crítica da Sociedade tal como fora compreendida