Adolescencia
Essa tempestade se alimenta numa espécie de mal-entendido fundamental: 1) os adolescentes menosprezam a experiência dos adultos, 2) os adultos menosprezam a experiência dos adolescentes. Explico. 1) Para os adolescentes, em regra, os adultos (a começar pelos pais) são seres resignados (e talvez um pouco covardes), que desistiram de seus sonhos. A existência dos adultos sendo uma longa renúncia, entende-se que os entusiasmos e os sentimentos dos mesmos sejam quase sempre fingidos, inautênticos: uma encenação para um "ersatz" de vida.
Será que os adolescentes inventaram essa visão cruel e, de fato, sumária da experiência dos adultos? Nada disso: os adolescentes apenas acreditam em nossas próprias palavras. Como assim? Simples: estamos sempre prontos a salientar que a "época maravilhosa" que eles estão vivendo logo chegará ao fim e aí eles deverão se render à "triste realidade" (que seria a nossa), ou seja, eles conhecerão a desistência e o fracasso que seriam próprios da idade adulta.
Resultado: os adolescentes se surpreendem ou mesmo se revoltam quando um adulto, de repente, manifesta seu desejo. Um adolescente pode achar a mãe e o pai indignamente acomodados e chatos que nem zumbis vivendo numa sinistra rotina de deveres; o mesmo adolescente tacha de inconsequente e traidor do lar a mãe ou o pai que decide se separar para correr atrás de um amor. 2) Para os adultos, em regra, o adolescente é um ser provisório, inacabado: ele é apenas a promessa de um futuro no qual, enfim, ele viverá "de verdade".
Sobretudo na classe média, essa convicção é confirmada pelo fato de que os adultos bancam a longa adolescência dos filhos, e isso demonstraria que os adolescentes, sem independência,