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As ilhas de cultura, as aldeias isoladas cercadas de mata, passaram a ser vistas antes como produtos do processo colonial, que conduziu ao esgarçamento das redes sociais do passado, do que como forma social originária. Finalmente, passamos a considerar provável a existência de sistemas hierárquicos, não-igualitários, com poder político destacado em várias partes das terras baixas do continente, em especial em sistemas multiétnicos envolvendo povos de língua Arawak
Alto Xingu é um caso privilegiado, pois lá encontramos, até hoje, formas bem definidas de chefia e de hierarquia. bem como uma intensa ritualização de um poder cosmopolítico. Ademais, há uma boa dose de continuidade entre o passado e o presente, o que nos permite conjugar o estudo arqueológico ao etnográfico. Comecemos, então, pela arqueologia.
O que chamamos, hoje, de Alto Xingu corresponde à porção meridional do Parque Indígena do Xingu, desde a sua fronteira sul (latitude 13o S) até o Morená, local de confluência dos rios Batovi, Culuene e Ronuro. Em seu auge, entre os séculos XIII e XVII, o sistema regional ocupava quase toda a drenagem dos formadores do rio Xingu, desde a latitude 13o 15” S, estendendo por uma larga faixa à jusante da confluência do Morená, até a foz do rio Suyá Missu. A região é transicional entre o cerrado e a floresta densa amazônica, apresentando características ecológicas bastante próprias: embora dominada pela floresta tropical nas áreas mais elevadas, há campos abertos parcialmente inundáveis,