Acima De Qualquer Suspeita Scott Turow
Mulher estuprada e assassinada. Seria apenas uma nova pasta nos arquivos policiais da Cidade de Kindle e um caso a mais na rotina de Rusty Sabich, investigador da promotoria pública, não fosse a vítima Carolyn Polhemus, advogada cuja beleza e sensualidade sempre foram proporcionais à ambição.
Além da tarefa ingrata de encaminhar as diligências sobre o crime envolvendo uma colega, pesa sobre Rusty a sensação de comprometimento: ele tivera um caso com
Carolyn, e a descoberta deste detalhe causa uma reviravolta no rumo das investigações, colocando o promotor na condição de principal suspeito.
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Para minha mãe
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Alegações preliminares
É assim que sempre começo:
“Sou o promotor.
“Represento o Estado. Aqui estou para lhes apresentar as provas de um crime. Juntos, vocês vão avaliar essas provas. Vão deliberar a respeito. E decidirão se confirmam a culpa do réu.
“Este homem...” E a essa altura eu o aponto.
Você sempre deve apontar, Rusty, foi o que John White me disse no dia em que comecei no gabinete. O xerife me tirou as impressões digitais, o juiz tomou meu juramento e John White levou-me para assistir ao primeiro julgamento de júri da minha vida. Ned Halsey fazia as alegações preliminares para o Estado; enquanto gesticulava pelo tribunal, John, à sua maneira generosa e paternal, cheirando a álcool às 10 horas, sussurrou minha lição inicial. Ele era, então, o subchefe da promotoria, um irlandês vigoroso, os cabelos brancos sempre desgrenhados como barbas de milho. Foi há quase 12 anos, muito antes de eu sequer acalentar a ambição secreta de ocupar o cargo de John. Se você não tem coragem de apontar, sussurrou John White, não pode esperar que eles tenham coragem de condenar.
Por essa razão, eu aponto. Estendo a mão ao longo do tribunal. Estico um dedo. Procuro os olhos do réu. E digo:
“Este homem foi acusado.”
Ele desvia o rosto. Ou pisca. Ou não demonstra a menor reação. No começo eu me preocupava com freqüência, imaginando como me sentiria sentado ali, sob o