Acessibilidade e Democracia: Onde a primeira não entra, a segunda passa longe
Antes da urna eletrônica, as pessoas cegas podiam votar de duas maneiras: em tinta ou em braillelink para um novo site. Para votar em tinta, a gente colocava a cédula dentro de um gabarito, que nada mais era do que uma capinha de cartolina com alguns buracos, que deixavam descobertas exatamente as partes da cédula onde o eleitor deveria escrever. Por exemplo, numa eleição para prefeito e vereador, como esta, uma parte da cédula teria todos os nomes e números dos candidatos a prefeito, cada um com um quadradinho na frente, como numa múltipla escolha. O gabarito para votar em tinta tinha os nomes em braille e um buraco em cada quadradinho, para a gente colocar o X no lugar certo do nosso candidato. Na outra parte da cédula, o gabarito tinha uma janelinha retangular, exatamente na linha onde a gente deveria escrever o número do nosso candidato a vereador. Os problemas eram vários. Muitas seções não recebiam os gabaritos e muitas pessoas cegas não conseguiam pegá-los antecipadamente em alguma escola ou instituição da sua cidade. Às vezes, no caminho da mesa até a cabine, a cédula saía de dentro do gabarito, obrigando o eleitor a voltar à mesa, para que alguém a recolocasse no lugar certo. Ou então, após exercer o seu voto, o pobre do eleitor era acometido por uma angústia atroz, em relação à fidelidade da caneta que estivera usando...
Para as pessoas cegas que não sabiam escrever os algarismos com uma caneta, existia o voto em braille. A cédula era colocada numa regletelink para um novo site (que é uma máquina manual de escrever em braille) e o eleitor escrevia o seu voto na cédula, não importando o lugar onde isto iria ficar. Como trabalhei em várias eleições, senti na carne o tamanho das complicações geradas por este processo arcaico: grandes filas, mesários despreparados, sem falar na apuração! Lembro-me bem de uma apuração no clube Piraquê (Zona Sul do Rio de Janeiro). A gente havia chegado às 7:30 da manhã para trabalhar na seção