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410 palavras 2 páginas
Nó na garganta: raça, classe social, gênero.
Ao estabelecer contato com a obra Nó na Garganta (1981), dois aspectos poderão chamar a atenção do leitor, antes mesmo que se inicie a leitura: o título da narrativa e a ilustração da capa. O primeiro – Nó na garganta – faz supor situações que poderão atingir a sensibilização da protagonista, possivelmente levando-a ao sofrimento, e a ilustração da capa, de alguma forma, corrobora essa constatação, uma vez que, de um grupo de crianças que brinca na praia, apenas uma está isolada das demais, somente observando as outras brincarem. Esta criança solitária é uma menina negra. O leitor, antecipadamente, poderá conjecturar que acontecimentos menos favoráveis ocorrerão com as personagens, e a heroína poderá ser o alvo principal.
A narrativa inicia quando Tânia, menina negra de dez anos, muda-se com a família, de São
Paulo para Santana, cidade praiana do litoral paulista. Vão à busca de novas perspectivas de vida, com mais tranqüilidade, com casa para morar, sem preocupações com pagamento de aluguel. Serão caseiros de Dona Matilde, senhora rica e branca, que lhes oferece a oportunidade de mudança. Logo fica clara a situação social da família, e esse aspecto de pobreza é manipulado durante a narrativa não somente como elemento ligado à condição de negritude de Tânia, mas também de gênero.
Embora, em muitos momentos, por envolver também os pais da protagonista, a questão de raça parece determinante para fomentar a compaixão do leitor em relação às personagens negras, a questão de gênero assoma toda vez que Pedro, menino branco e tão pobre quanto a heroína, não sofre o mesmo tipo de discriminação, tampouco é levado à autocomiseração, como ocorre com
Tânia. A voz narrativa se compraz em comover, sensibilizar o leitor através da exploração da piedade, pois a menina não é tratada como um ser humano que passa por problemas que deverão ser superados e pode viver, livremente, peripécias que a

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