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Aída Maria Jorge Ribeiro
Mestre em Letras pela Universidade Federal Fluminense
Professora do Instituto Federal Fluminense Campus Campos-Guarus aida@iff.edu.br RESUMO
O presente artigo visa a descobrir, sobretudo, aplicações para os conceitos de autobiografia e autoficção, respectivamente, apresentados em textos de crítica literária dos escritores Philippe Lejeune e Serge
Doubrovsky, a partir da leitura da biografia literária de Manuel Bandeira, Itinerário de Pasárgada (1967).
Segundo os críticos em questão, para que seus respectivos conceitos sejam aplicados é preciso haver coincidência entre autor, narrador e personagem. Estabelece-se um contrato. Entenderemos, assim, que toda biografia, sendo uma linguagem também artística, trairia a realidade, pelos seus esquecimentos, supressões e omissões. A possibilidade de recortes faria, então, de toda autobiografia uma autoficção. Em Itinerário de
Pasárgada, encontramos uma coincidência entre autor, narrador e personagem, uma biografia, que, em princípio, possui um compromisso com a verdade, com o real, mas que é adjetivada por um elemento fictício: de Pasárgada. Itinerário de Pasárgada, de Manuel Bandeira, é considerada a primeira biografia estritamente literária que se publica no Brasil. Ora, biografia (real) literária (ficção)? O “eu – poético” vai-se esfacelando pela percepção do leitor que encontra as incoerências, as lacunas de uma possível realidade.
Bandeira era realmente simples, pessimista e doente? Ou será que seus versos, independentemente de tais dados serem reais ou não, parecem penetrantes, sublimes em sua simplicidade? Muitas vezes, pela impossibilidade de comprovação de dados biográficos - e para não tirarmos o poder de transformação, de encenação, de ficcionalização, de literário do poema - não seria ideal interpretarmos a obra sem tais aportes?
Ficção, realidade, cada vez mais juntas, na carência de verdades e ilusões.
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