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776 palavras 4 páginas
A diferença

Uma vez imaginei o encontro

de Batman e Drácula numa

clínica geriátrica, na Suíça.
Batman não acredita que Drácula tenha mais de 500 anos. Não lhe daria mais de 200.
— Tempo demais — diz Drácula. — Estou na terceira idade do
Homem. Depois da mocidade e da maturidade, a indignidade...
O cúmulo da indignidade, para o conde, é a dentadura falsa. Ele não pode ver sua própria dentadura sobre a mesinha de cabeceira sem meditar sobre a crueldade do tempo. Já tentou o suicídio, sem sucesso.
Estirou-se numa praia do Caribe ao meio-dia, para que o Sol o reduzisse a nada. Só conseguiu uma boa queimadura. Dedicou-se a uma dieta exclusiva de alho. Só conseguiu que as mulheres o expulsassem da cama.
A estaca no coração também não funcionara. Precisava ser de um determinado tipo de madeira benta, usada numa determinada fase da Lua, a logística do empreendimento o derrotara. E ninguém se dispõe a matá-lo, agora que seus caninos são postições e ele não é mais uma ameaça. DráDiálogos impossíveis

!

9

cula está condenado à vida eterna, à velhice sem redenção e à indignidade sem-fim. Internou-se na clínica com a vaga esperança de que a Morte, que vem ali buscar tanta gente, um dia o leve por distração.
— E você, Batman?
Batman conta que está na clínica para retardar a Morte. Não confessa sua idade, mas recusa-se a tirar a máscara para que não vejam suas rugas. Ele não é um super-herói com superpoderes, inclusive o de não morrer, como o Super-homem.
— Eu sou dos que morrem — diz Batman, com um suspiro.
No tom da sua voz está a lamúria milenar da espécie dos que morrem. Drácula parece não ouvi-lo. Está interessado em outra coisa.
— Você vai terminar esse iogurte? — pergunta.
Mas Batman continua sua queixa.
— Eu já não voava. Hoje quase não caminho. Não posso mais dirigir o Batmóvel, não renovaram minha carteira...
Mas ele não quer a redenção da morte. Quer a vida eterna, a mesma vida eterna de um homem de aço.
— Vamos fazer um trato — sugere Drácula. — Quando a Morte

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