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O escritor Laurentino Gomes deve estar feliz e com certeza surpreso pelo sucesso dos seus livros: "1808" e "1822". Tomara repita o sucesso com "1889" — um livro que, ainda mais que os outros dois, explicam muito do Brasil atual. Mais que isso, mostra que os nossos entraves atuais são seculares.
O objetivo do livro é explicar porque a monarquia caiu tão facilmente em 1889. Mas, para construir o argumento, o autor passa em revista a todo o reinado de dom Pedro II. O livro torna-se uma fonte boa e agradável de se ler, ainda que resumida pelo escopo, deste período da história brasileira.
No geral, fica claro que o Brasil esteve sob excelente direção neste período. A maior prova é a manutenção da unidade territorial, coisa que ninguém mundo afora acreditasse ser possível. É notória a personalidade liberal do imperador, pouco dado a perseguições políticas. A liberdade de imprensa do período foi muito mais preservada que nos primeiros cem anos de República.
Como tudo na vida, a monarquia caiu por uma confluência de fatores. Para começo de conversa, apesar da Princesa Isabel ter assinado a Lei Áurea (certamente para livrar o pai do embaraço) ela provavelmente não tinha preparo para ser uma rainha. Era extremamente religiosa, isso num Brasil onde o positivismo ateísta era a filosofia da moda. Havia um medo (legítimo) que a rainha seria teleguiada pelo marido, o francês Conde d'Eu; e pelo Papa, a quem jurou lealdade.
O próprio dom Pedro II nunca reprimiu manifestações republicanas, chegou a freqüentar reuniões da Maçonaria na condição de ouvinte (os primeiros "n" presidentes da República foram maçons). Insinua-se que no fundo o imperador já previa a adoção do sistema republicano, e talvez até planejasse coordenar a transição, se não tivesse ficado