43 3960 MARIO PEDROSA A arte e as linguagens da realida 2015 1
1727 palavras
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A ARTE E AS LINGUAGENS DA REALIDADE MARIO PEDROSAA linguagem deforma. Ela não apenas serve para ocultar os nossos pensamentos, conforme pressente a cínica sabedoria popular, como faz muito pior: concorre para nos esconder de nós mesmos. C. R. Ogden, o eminente psicólogo inglês, vai ao ponto de sustentar que a nossa herança lingüística não foi apenas “uma vantagem imensa” mas, “em menor escala, uma calamidade”. Veículo automático da tradição, por intermédio dela recebemos prontinhas as receitas de muitas de nossas atitudes morais. E a estas nos habituamos, desde crianças, a absorver e a transmitir às gerações sucessivas, sem qualquer dúvida ou exame crítico. Para aquele psicólogo as palavras “bom” e “mau” são duas máquinas prodigiosas de regulamentação ética, equiparando-as ele aos conceitos primários do “permitido” e do “não permitido” para criança. Pouco a pouco perdem-se as origens desses conceitos e por fim a mente se limita a atitudes, vagamente esboçadas pelas palavras, de aceitação ou recusa. O indivíduo volta a um estado infantil, primitivo ou animal. “Mau” equivale ao grito de “perigo” e “bom” se reduz a um sinal de sedução.
A maioria dos homens de hoje não reage de outra forma às palavras que ouve nem às imagens reproduzidas aos bilhões. Muitos temas políticos ou religiosos atuais são excelentes exemplos de uma linguagem inadvertidamente reduzida ao bê-á-bá infantil. No fundo, quando se trata de ver as coisas como são, a distância que nos separa dos selvagens e das crianças é ainda muito pequena.
Pesa sobre nossa mente um acúmulo de cristalização supersticiosa e emotiva que em de outras eras. Apesar do formidável aparelhamento expressivo que a ciência e a tecnologia moderna nos deram, o instrumento do pensar e de sentir na prática é ainda ligado de uma época ultrapassada, quando nasceu o racionalismo abstrato. O