2014731 93442 Depois Do Espet Culo Sobre Teoria 4 Debord
3423 palavras
14 páginas
Depois do espetáculo(reflexões sobre a tese 4 de Guy Debord)1
Juremir Machado da Silva2
Resumo: este estudo reflete sobre a passagem da “sociedade do espetáculo”, anunciada e denunciada por Guy Debord, em
1967, ao hiper-espetáculo ou sociedade “midiocre”.
Palavras-chave
1. Imaginário 2. Tecnologias 3. Tecnologias do imaginário
4. Sociedade do espetáculo 5. Cultura 6. Comunicação.
O
espetáculo
acabou.
Estamos
agora
no
hiper-
espetáculo. O espetáculo era a contemplação. Cada indivíduo abdicava do
seu
papel
de
protagonista
para
tornar-se
espectador. Mas era uma contemplação do outro, um outro idealizado, a estrela, a vedete, os “olimpianos”3. Um outro radicalmente diferente e inalcançável, cuja fama era ou deveria ser a expressão de uma realização extraordinária.
No
espetáculo,
o
contemplador
aceitava
viver
por
procuração. Delegava aos “superiores” a vivência de emoções e de sentimentos que se julgava incapaz de atingir.
1
Trabalho apresentado ao GT Comunicação e Cultura.
Juremir Machado da Silva, Doutor em Sociologia pela Sorbonne, Paris
V, é pesquisador do CNPq, coordenador do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação da PUCRS e autor, entre outros livros, de As Tecnologias do imaginário (Porto Alegre, Sulina, 2003).
3
Sobre estrelas, vedetes e olimpianos, cf. MORIN, Edgar. Les stars.
Paris, Seuil, 1972.
2
1
No hiper-espetáculo, a contemplação continua. Mas é uma contemplação
de
si
mesmo
num
outro,
em
princípio,
plenamente alcançável, semelhante ou igual ao contemplador.
Na era das celebridades, época da “democracia radical”4, em que todos devem ter direito ao sucesso, os famosos simulam uma superioridade fictícia. São tantos mais adorados quanto menos se diferenciam realmente dos fãs. A identificação deve ser total e reversível. Cada um deve poder se imaginar no lugar da estrela ou do objeto da sua admiração e aspirar à condição de famoso. Não há mais alteridade verdadeira. O outro é “eu” que deu certo graças às