1941836

2378 palavras 10 páginas
O DEBATE DE MABEL NA CESSÃO DO OBJETO ANAL
Ana Lydia Santiago
É cada vez mais freqüente, nos tempos atuais, o encaminhamento de crianças bem novas para tratamento psicanalítico. O quadro sintomático inicial chama a atenção pela desorganização do corpo erógeno, que evidencia a urgência do sujeito em produzir o objeto natural.
Mabel tem 3 anos. É apresentada pelos pais como uma menina muito inteligente, que tem uma memória surpreendente – sabe o alfabeto de cor, em português e inglês, decora letras de musica e diálogos de histórias –, reconhece as siglas nas ruas. Muito alegre, muito bonita. E tem dois problemas.
O primeiro é que não dorme. Os pais não se lembram de ela ter tido sequer uma noite inteira de sono. Mais precisamente, o limite máximo nunca ultrapassava quatro horas seguidas. Recorreram à tudo: nãna-neném, reza, neuropediatria e à homeopatia, sem sucesso. Mabel acorda no meio da noite e canta, recita os nomes dos colegas, fala e fala. Na maior parte das vezes, chora e resmunga, sem acordar. Parece ter pesadelos. Um dia, assentou-se na cama e disse: “Vocês acham que eu estou ficando doida?” Mas é assustador: ela parece sonâmbula. Faz movimentos descoordenados, que levam a pensar que está tendo uma crise convulsiva. ultimamente, ela acorda desce da cama e vai para o quarto do casal. Os pais tem que se levantarem, acompanhá-la ao seu quarto e segurar sua mão. Para ela, dormir tem como significado segurar a mamadeira com uma mão e a mão de alguém, com outra.
Segundo o pai, ela é muito ligada, muito agitada, faz tudo correndo, não tem medo do escuro. Segundo a mãe, ela é tão antenada nas conversas dos pais, que se torna necessário fazer uso de outro idioma para preservá-la de determinados assuntos. Diante da ausência de efeitos terapêuticos dos tratamentos implementados para melhorar o sono, passaram a justificar a dificuldade de Mabel com a hipótese de uma provável hipersinesia, isto é, a filha deve escutar acima do normal e por isso é despertada

Relacionados