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Qual é a cara do Brasil?Há exatos 90 anos, realizava-se em São Paulo a Semana de Arte Moderna de 1922, um evento que foi limitado em termos de proporções, mas que alcançou com o passar do tempo uma amplitude surpreendente, a ponto de se tornar um mito, um marco histórico. Em uma São Paulo de 500 mil habitantes, dependente da produção do café e com forte predomínio da imigração italiana, a Semana foi, em primeiro lugar, um movimento da elite intelectual da época bancado pela elite econômica, no caso, os barões do café. Sua proposta era audaciosa: estabelecer uma relação do País com a tradição nacional e as influências estrangeiras.
Paradoxalmente, o grande mérito daquele grupo de modernistas que bebiam na fonte das influências internacionais, especialmente europeias, foi questionar pela primeira vez qual a identidade do Brasil nas artes e na cultura. Nove décadas depois, o mundo, o Brasil e São Paulo passaram por anos-luz de transformações, mas algumas questões ainda são convergentes com a agenda da Semana de 22.
Nosso País vive hoje uma espécie de renascimento tanto do ponto de vista interno quanto externo. O mundo passou a nos olhar mais e começamos a impor respeito. Ao mesmo tempo, um País com a dimensão continental como o nosso finalmente está deixando de ser etnocêntrico, com uma melhor distribuição de riqueza entre os seus diversos Estados. Não cabe mais olhar o Brasil a partir de São Paulo.
O movimento modernista foi promovido pelos mais ricos. Isso pouco mudou hoje. O debate sobre arte e cultura ainda não chegou às classes mais baixas e na base da sociedade. Essas pessoas foram descobertas e passaram a ser enxergadas pelas classes dominantes há pouco tempo simplesmente porque o seu poder de consumo aumentou e não porque elas merecem ser respeitadas.
Por tudo isso é que hoje, mais do que há 90 anos, a pergunta sobre qual é a cara do Brasil se faz necessária e a resposta ainda suscita dúvidas.
Não por coincidência, também nesta semana, tem